sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Cansaço sonâmbulo matinal.

Vou fazer o que tu me pedes, sem receio. Ao nascer do grande despertador após as vinte e quatro ilusórias vias de acesso contínuo que passaram, eu me senti muito cansada. Sabe, um cansaço de tantas coisas que eu devia, ou não, fazer. Mas não, meu bem, não senti cansaço de você. Os latidos do cachorro me cansaram, você sabe o que eles me causam. Mas o que eu senti foi um cansaço diferente. Um cansaço de me mostrar e de me esconder. Um cansaço de sentir saudade do cheiro do café da minha mãe, ou do meu pai cantarolando pela casa. Um cansaço de acordar sempre sozinha após dormir sozinha. Um cansaço de conversar pouco e ter vontade de falar muito. Um cansaço de lembrar de quanto o meu quarto verde mudava quando começava a chover. Mas não, meu querido, eu não sinto cansaço de você. Eu me canso das reclamações, eu me canso dos ônibus cheios de pressa, eu me canso do pedantismo dormente que conseguiu florescer. Sinto-me exausta dos comprimidos pra dor, dos suplícios de esquecimentos contínuos, e de continuar sem entender. De tanta coisa que passa, de uma cabeça bagunçada, de tudo que eu queria esquecer. Ah, eu acabo tendo pouca vontade e muito querer! Mas não, meu amado, não te assustes, eu não sentirei cansaço de você. É só de mim, das coisas. Dessas manhãs que me fazem o favor de ser tão estranhas. São esses portões, eu acho, são essas coisas com as quais eu nunca consigo me acostumar. Mas não te preocupes, pois te digo apenas das mais simplórias e rotineiras agonias que me visitaram nas primeiras horas do dia.

Um comentário:

guh disse...

porra, mah
tu demora mas tu se garante. pessoa de pouca vontade e muito querer!