Ela lembrou que era um sábado de sol. Um verão estranho. Lembrou da vida que era sua e de todos os sentimentos que eram seus. Lembrou do sorriso do pai e dos conselhos da mãe. Era verão, mas fazia frio. Havia o desespero da impotência. Havia a força externa que a obrigava a lembrar de tudo que pudesse em poucos minutos.
A canção que um dia embalou seus sonhos de menina romântica tocava bem alto aos seus ouvidos. Lembrou-se do primeiro beijo, do primeiro amor, do primeiro filho. Infelizmente, não havia tempo para lembrar com mais apego, com mais carinho. Apenas lembrava. Como se existisse uma projeção e uma ampulheta repreendendo amargamente algumas doçuras e trazendo para aquele momento apenas o que era mais abissal dentro de si.
Ela quis pedir desculpas, pedir mais uma dança, pedir um conselho, mas tudo conspirava para o rápido balé desajeitado que agora precisava dançar. E fazia mais frio agora. As lembranças machucavam, mas estranhamente também funcionavam como conforto. Dava pra ouvir a risada dos filhos, o primeiro cantante Natal em família e as juras do amor falido do ex-marido. Podia sentir muitas coisas naquele instante com uma sensibilidade que contrastava com a angústia que permeava a situação.
O balé, claro, estava ficando mais lento. E a música teve o volume arrefecido. As imagens, no entanto, ficavam mais claras e rápidas. O frio aumentou. Ela lembrou que era um sábado de sol. Lembrou que não existiam mais forças. Lembrou que o mar a chamou para dançar. Era verão, mas fazia frio.
~ Palloma Soares.
3 comentários:
irado :)
já et disse que curto paca esse tipo de poesia em prosa, né?
muito massa!
beijãOo ;*
Tem gente que leva uma vida toda na ponta do pé e esquece que o chão é firme!
Saudades Pah!
juras de amor falido são...fodas
Postar um comentário